Netflix, vídeo game, internet… Será que os novos costumes estão afetando a vida sexual das pessoas? Com certeza sim! Mas não é só isso. A falta de independência financeira e, as formas de se relacionar em nossos dias, impactam as relações sexuais, principalmente entre os mais jovens.
Não vamos discutir os benefícios que uma vida sexual saudável pode trazer. Mas pesquisas nos EUA e no Reino Unido estão chamando a atenção para um fenômeno não verificado anteriormente: os mais jovens, principalmente do sexo masculino, estão fazendo menos sexo. O National Opinion Reseach Center da Universidade de Chicago (EUA) constatou que mais da metade (51%) dos adultos com idades entre 18 e 34 anos nos EUA não está num relacionamento longo com o parceiro. Isso talvez contribua para que 28% dos homens com menos de 30 anos afirmarem não ter feito sexo nos últimos 12 meses. De modo similar, um estudo incluindo 45 mil britânicos, de ambos os sexos, e publicado na British Medical Journal (BMJ 2019; 365: l1525), constatou que aproximadamente um terço dos pesquisados não tinha feito sexo no último mês.
Uma explicação proposta por Simon Forrest, professor no Instituto para Saúde e Sociedade da Universidade de Newcastle no Reino Unido, é que as pessoas estão se comprometendo após os 30 anos de idade, ficando por muito mais tempo dependentes financeiramente dos pais e morando com eles. Forrest também destaca o elevado consumo de material pornográfico online que afeta as relações sexuais elevando a ansiedade e obsessão com o corpo e suscetibilizando as mulheres a um comportamento mais negativo por parte dos companheiros. Em entrevista ao jornal americano The Washington Post (29/03/19), Jean Twenge, que é professora de psicologia na Universidade San Diego State (EUA), salienta que a tecnologia também vem modificando o padrão sexual da população de todas as idades, em virtude de passatempos como vídeo games, serviços de streaming (como o Netflix), redes sociais etc.
A forma como as pessoas procuram relações duradouras também mudou. Aplicativos de namoro são uma das formas de conhecer parceiros hoje em dia. Entretanto, homens e mulheres se comportam de forma diferente nessa escolha. Um estudo que envolveu universidades da Inglaterra, Itália e Canadá – A First Look at User Activity on Tinder – demonstrou que mulheres são mais seletivas em suas escolhas enquanto homens curtem os perfis de forma mais indiscriminada. Então fica mais difícil dar match! O antropólogo brasileiro Michel Alcoforado também concorda que o uso de aplicativos de relacionamentos trouxe transformações na vida afetiva das pessoas. Em entrevista no programa Democracia na Teia (29/03/20), salienta que nos apps as pessoas metrificam suas ações por meio das curtidas que obtêm. Assim, há uma tendência a publicar aquilo que mais parece se encaixar no que é mais valorizado pelo outro. Ou seja, lentamente as pessoas vão se tornando um produto no “mercado dos afetos”. E a angústia cresce quando chega o momento do primeiro encontro porque, afinal, é preciso sustentar aquilo que se “vendeu” online. O antropólogo acredita que na lógica do custo benefício, a abstinência sexual está mais comum do que nunca e que os mais jovens fazem menos sexo mesmo. Se o declínio na frequência sexual indicar uma maior conexão humana mais geral, esses dados podem ser preocupantes.
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