Se alguém lhe pedisse pra descrever um homem, que coisas você falaria? Talvez viesse à sua mente a ideia de que um homem de verdade é forte, não chora, gosta de futebol, veste azul, não demonstra seus sentimentos, foge de compromisso e nunca perde uma oportunidade de fazer sexo. Infelizmente esses conceitos perpassam a história e constituem na prática aquilo que chamamos de masculinidade tóxica.
Desde pequenos os garotos vão ouvindo coisas sobre os homens que impactam a vivência da própria masculinidade. É como se veladamente existisse uma cartilha a ser seguida para que um garoto se torne um homem com H maiúsculo. Mas você já se perguntou quem criou isso ou que impactos esses conceitos geram na autoestima masculina e nos relacionamentos?
A masculinidade que se sustenta na violência, agressão e brutalidade ainda é muito valorizada em nossa sociedade. Ela remete a tempos antigos onde a hegemonia do homem era refletida num patriarcado de dominação, políticas de poder e negação de direitos. De igual modo, a demonstração de emoções, sensibilidade e empatia pelos homens foi relacionada à fraqueza e feminilidade. É triste constatar que muita gente pensa desse jeito ainda hoje. Não apenas homens, mas também mulheres. Resultado: todos sofrem com isso.
Homens pagam um alto preço quando vivenciam a masculinidade tóxica, podendo inclusive perder a própria vida. Afinal, é o reforço desse tipo de comportamento que faz com que os homens liderem as mortes no trânsito, morram de câncer de próstata dado o preconceito e resistência em procurar ajuda médica, sofram com acidentes de trabalho ao ignorarem a proteção adequada e se coloquem em risco ao exibir um comportamento competitivo e briguento. Isso é o que demonstra o relatório da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) divulgado no fim do ano passado. Nas Américas, um em cada cinco homens morre antes dos 50 anos por causas ligadas à masculinidade tóxica. As expectativas sociais sobre os homens elevam as taxas de suicídio, homicídio, vícios, acidentes e surgimento de doenças crônicas.
A ideia de que o homem precisa sempre estar no controle também é bastante difundida. E o homem que divide as tarefas domésticas, carrega as compras ou cuida do bebê é chamado, muitas vezes, de molenga ou dominado pela mulher. Como se ser um homem responsável fosse demérito. A masculinidade tóxica também justifica que homens exerçam domínio sobre outros homens considerados mais fracos ou menos hipersexualizados. Exercer esse tipo de comportamento faz mal a quem está por perto, mas traz muita infelicidade a quem age desse modo, afinal não existe um superman que não precise de acolhimento e apoio emocional ao longo da vida.
Finalmente, vale ressaltar que a masculinidade e os homens não são intrinsecamente tóxicos. É a distorção de alguns valores e estabelecimento de estereótipos que estragam o que há de melhor em ambos.
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