Acho que isso já aconteceu com você. Perceber que está olhando o celular freneticamente, mesmo não estando esperando alguma mensagem ou e-mail importante. Mesmo já tendo percorrido as atualizações da mídia social, assistido vídeos ou simplesmente lido notícias. Mesmo precisando dormir pra acordar cedo no dia seguinte. E pior de tudo, mesmo não tendo encontrado a conexão emocional que precisava. Diagnóstico: SOLIDÃO!
A ironia de nosso tempo é nos sentirmos tão solitários apesar de tantas “conexões”. A solidão da qual estou falando, não é a causada, necessariamente, pelo isolamento social devido a fatores físicos e geográficos. A solidão que adoece a alma é a causada pelo isolamento psicológico. Essa dolorosa experiência humana que sempre será experimentada por todos em algum momento da vida, deixa clara a distinção: isolamento social é estar sozinho, mas solidão é sentir-se sozinho.
A solidão tem se tornado uma epidemia. Dados de uma pesquisa conduzida por John Cacioppo e Stephanie Cacioppo do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago mostram que uma em cada três pessoas, sente-se sozinha. E não existe um padrão entre os afetados. A solidão pode atingir qualquer pessoa – uma criança que trocou de escola, um jovem que se mudou pra uma cidade grande, um adulto que vive imerso no trabalho ou um idoso que perdeu um cônjuge. Isso significa que mesmo cercados por pessoas, podemos não experimentar sintonia com ninguém. Desse modo, mesmo tendo família, amigos e muitos seguidores nas redes sociais, sentimos vazio interior, enfado e insatisfação.
É importante diferenciar uma crise de solidão da solidão crônica. No primeiro caso o sentimento de solidão tem curta duração e normalmente é desencadeado por uma situação pontual de esquecimento, exclusão ou traição. Quando a solidão se torna crônica, permanece por um longo período e causa muitos danos à saúde. Muitas vezes, a pessoa solitária até tentou estabelecer relacionamento com outros, mas tendo falhado ou se decepcionado, acabou se resignando com a própria condição pra evitar o risco da dor e rejeição. Os prejuízos emocionais são grandes e resultam em baixa autoestima, tristeza, angústia e medo, dentre outros. Nessas condições, a irritação pode indicar um pedido de ajuda e, ser hostil, pode funcionar como uma defesa da fragilidade pessoal. Nosso corpo também sofre com a solidão. O grupo de Chicago verificou maior comprometimento imunológico na resposta a infecções virais e processos inflamatórios. O sono também é prejudicado e o cortisol (hormônio do estresse) se eleva consideravelmente. As pesquisas seguem na esperança de desenvolver uma “pílula da solidão” que possa aliviar alguns dos sintomas sofridos.
Talvez a maior dificuldade no enfrentamento desse problema seja o estigma e preconceito que uma sociedade hiperconectada nos impõe ao nos declararmos solitários. “Custa menos” nos distrair rolando uma tela do que encarar a realidade de nos sentirmos miseravelmente solitários sem a camuflagem de nossos dispositivos móveis. Desconfio que essa seja a grande ilusão da conexão.
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